O OLHÃO tem o prazer de apresentar SUPER-NATURAL, próxima exposição do espaço que acontece entre os dias 28 de agosto e 30 de outubro. A coletiva reúne os artistas Adriano Amaral, Nídia Aranha, Vitória Cribb, Débora Delmar, Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort e Janaina Wagner para se engajar em questões em torno da dimensão especulativa da dissolução do binômio natureza-cultura, especialmente considerando a herança moderna da construção destes conceitos.

Marcada para acontecer no primeiro semestre de 2020 e adiada por questões de segurança sanitária, a mostra finalmente acontece em 2021, sendo a primeira exposição do espaço aberta ao público desde 2019, quando começou a ser pensada.

Em uma ecologia construída por instalação, instrumento, instrução, escultura, som, aroma e vídeo  – além daquelas obras que dificilmente se encaixam em uma única categoria – , a cada um dos participantes é oferecida instrumentalidade para pensar seu próprio trabalho em relação ao dos demais outros presentes na mostra.

Convidadas para escrever um texto em resposta ao projeto, Lívia Benedetti e Marcela Vieira identificam uma relação entre o que é apresentado em SUPER-NATURAL e o universo do artista Kanye West; talvez a mesma justaposição entre desejo celestial e hiperrealismo kynicista que Mark Fisher identificou em Spaceship, faixa que sinalizou como assinatura do primeiro álbum do rapper.

Nos textos, tanto no de Fisher quanto no de Benedetti em colaboração com Viera, é apontado como as estratégias materiais e formais dos trabalhos, do álbum e da exposição, possibilitam a fabulação da presença de um agente mais-que-humano, um que não é o sujeito hegemônico universal.

Mesmo que os os sete artistas presentes na exposição atravessem assuntos convergentes de maneiras distintas e, talvez, especialmente por isso, a mostra cria uma atmosfera que questiona a si mesma, interessada em destacar a ausência de realidade inclusive do próprio trabalho artístico ao invés de afirmar a partir dele um novo postulado do que é colocado em cheque. 

SUPER-NATURAL foi organizada por Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort e OLHÃO e é acompanhada de um texto de Lívia Benedetti e Marcela Vieira.

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OLHÃO is pleased to present SUPER-NATURAL, a group show taking place between August 28th and October 30th, 2021. The exhibition brings together artists Adriano Amaral, Nídia Aranha, Vitória Cribb, Débora Delmar, Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort, and Janaina Wagner to engage in questions around the speculative dimension of the dissolution of the nature-culture binomial, especially considering the modern heritage of construction of these concepts.

Planned to happen in the first half of 2020 and postponed due to health safety restrictions, the show finally takes place in 2021, being the first exhibition of the space open to the public since 2019, when the show was first thought of.

Invited to write a text in response to the project, Lívia Benedetti and Marcela Vieira identify a relationship between what is presented in SUPER-NATURAL and the universe of the artist Kanye West; perhaps the same juxtaposition between celestial desire and kynicist hyperrealism that Mark Fisher identified in Spaceship, the track he placed to be the heart of the rapper’s first album.

In the texts, both by Fisher and by Benedetti in collaboration with Viera, it is pointed out how the material and formal strategies of the works, in the album and in the exhibition, enable the fabulation of the presence of a more-than-human agent, one who does not it is the universal hegemonic subject.

Although the seven artists present in the exhibition cross converging subjects in different ways and, perhaps, primarily because of that, the exhibition creates an atmosphere that questions itself, highlighting the absence of reality even in the artworks itself, rather than affirming from it a new postulate of what is put in check.

SUPER-NATURAL was organized by Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort and OLHÃO and is accompanied by a text by Lívia Benedetti and Marcela Vieira.

SUPER-NATURAL 

SUPER-NATURAL soa como uma presença estranha no espaço físico do OLHÃO, justapondo ecos distantes do que é natureza, ou do que é natural, em contraste com um local expositivo árido, concretado e urbano. Um dos trabalhos da mostra, da artista Débora Delmar, exala o odor de cédulas frescas de dinheiro em uma das salas. Em 2012, no programa televisivo estadunidense Shark Tank, um dos aspirantes a empreendedor tentou vender para um júri de investidores sua invenção batizada de Liquid Money, um perfume com cheiro de dinheiro. Ele se disse inspirado por um estudo conduzido no Japão que conclui que borrifar esse odor nas fábricas incentiva a produtividade dos operários. Já no OLHÃO, o cheiro de dólar pode remeter a fantasias de supostas transações comerciais de um mercado de luxo, o da arte. Mesmo que SUPER-NATURAL aconteça em uma instituição autônoma dirigida por artistas, a associação com o dinheiro e com o sucesso paira no ar. 

Na exposição há também um display com cabeças de látex impressas com os rostos de nove integrantes da família Kardashian/Jenner. O clã é um fenômeno bilionário da atual era digital – a fama começou em 2007, quando uma sextape caseira de Kim vazou na internet. Nos últimos anos, a família é especialmente conhecida por lançar tendências no mercado de beleza, difundindo novas padronizações de formato de corpos curvilíneos e rostos esculpidos: o modelo de beleza kardashiano é ultraviralizado em tutoriais de maquiagem, cirurgias plásticas e filtros de mídias sociais. The Kardashians, de Ilê Sartuzi, confere uma tangibilidade a esses rostos, tão conhecidos porém achatados por telas, como vem sendo também grande parte de nossa atual mediação com o mundo dito “real”.

Tratamos aqui, porém, de intuições remotas sobre a percepção de SUPER-NATURAL, pois as impressões desse texto foram imaginadas à distância, alimentadas por conversas online que nos proporcionaram tomar contato com as obras e com o projeto por meio de PDFs, maquetes em 3D, e-mails e mensagens no WhatsApp. SUPER-NATURAL estava programada para acontecer em maio de 2020, mas foi interrompida pela pandemia e teve que ser postergada por mais de um ano até se tornar viável. Confrontados por esse adiamento, seus organizadores, Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort, artistas que exploram a visualidade digital em seus trabalhos, e o OLHÃO não cogitaram fazer uso de soluções que se popularizaram nos últimos meses, como adaptar a mostra, ou parte dela, para um formato online. A exposição depende do espaço físico, mas é toda constituída virtualmente, seja nesse texto, na escolha dos trabalhos e em quase todas as outras etapas, como a montagem remota de algumas obras. 

Imaginamos se, nestes tempos pandêmicos, visitantes da exposição, portando suas máscaras faciais, conseguirão se deixar emergir pelo aparato do cubo branco, abstraindo o desconforto e estando de fato presentes frente aos trabalhos. Buscarão distanciamento de outras pessoas que adentrarem o espaço? Associarão o uso de suas máscaras com conceitos-chave dessa exposição, binômios que podem soar opostos mas que coexistem em processos simultâneos: natureza e artificialidade, sintético e orgânico? A crise sanitária que atravessou o desenvolvimento de SUPER-NATURAL certamente interessa ao pensamento tecido pela mostra. Agora, ela será vista sob a perspectiva do impacto desse fenômeno mais-do-que-humano, o vírus, sobre a cultura. 

– Livia Benedetti em colaboração com Marcela Vieira 

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SUPER-NATURAL

Lívia Benedetti and Marcela Vieira

SUPER-NATURAL sounds like a strange presence in OLHÃO’s physical space, juxtaposing distant echoes of what is nature or natural, in contrast to an arid, concreted, and urban exhibition space. 

One of the works in the exhibition, by artist Débora Delmar, gives off the odor of newly printed money bills in one of the rooms. In 2012, on the American television program ‘Shark Tank,’ one of the aspiring entrepreneurs tried to sell his invention ‘Liquid Money’ to a jury of investors, a perfume with the smell of money. He said he was inspired by a study conducted in Japan that found that spraying this odor in factories boosts workers’ productivity. On the other hand, the smell of the dollar can refer to fantasies of supposed commercial transactions in a luxury market, that of art. Thus, even if SUPER-NATURAL takes place in an autonomous artist-run institution, the association with money and success hangs in the air. 

There is also a display in the exhibition with latex heads with prints of the faces of nine members of the Kardashian/Jenner family. The clan is a billionaire phenomenon of today’s digital age – fame began in 2007 when Kim’s homemade sex tape was leaked online. In recent years, the family is primarily known for launching trends in the beauty market, spreading new standardizations in the shape of curvy bodies and sculpted faces: the Kardashian beauty model is ultra-viral in makeup tutorials, plastic surgery, and social media filters. ‘The Kardashians,’ by Ilê Sartuzi, gives a tangibility to these faces, so well known but flattened by canvases, as has also been a large part of our current mediation with the so-called “real” world.

We are dealing here, however, with remote intuitions about the perception of SUPER-NATURAL, as the those of this text were imagined from a distance, fed by online conversations that allowed us to get in touch with the works and the project through PDFs, 3D models, emails and messages on WhatsApp. SUPER-NATURAL was scheduled to happen in May 2020 but was interrupted by the pandemic and had to be postponed for over a year to become viable. Confronted by this postponement, its organizers, Ilê Sartuzi, Wisrah Villefort, artists who explore digital visuality in their works, and OLHÃO, did not consider using solutions that have become popular in recent months, such as adapting the exhibition, or part of it, to an online format. The exhibition depends on the physical space, but it is constituted entirely virtually – whether in this text, in the choice of works, and in almost all other stages, such as the remote assembly of some works.

We wonder if, in these pandemic times, visitors to the exhibition, wearing their face masks, will manage to let themselves emerge through the apparatus of the white cube, abstracting their discomfort and actually being present in front of the works. Will they seek to distance themselves from other people who enter the space? Will they associate the use of their masks with critical concepts in this exhibition, binomials that may sound opposite but coexist in simultaneous processes: nature and artificiality, synthetic and organic? The health crisis that went through the development of SUPER-NATURAL certainly interests the thought woven by the exhibition. Now, it will be seen from the perspective of the impact of this more-than-human phenomenon, the virus, on culture.